O tema em reflexão violência e sociedade tem sido
objeto de estudos de diversas ciências, as quais cada uma a seu modo, tentam
apresentar argumentos convincentes que justifiquem suas origens, causas das
problemáticas diversas apresentadas e respostas às indagações surgidas no
cotidiano. Por que a sociedade está cada dia mais violenta? Por que e como a
violência está destruindo a sociedade? Quem produz a violência? O que de fato é
violência? Ou ainda, o que é uma sociedade do ponto de vista daquilo que
aprendemos que era ou que deveria vir a ser?
Por mais que a vida em sociedade seja
gerida pelo estabelecimento de regras jurídicas, valores morais, limitação da
vontade pessoal em detrimento da convivência harmônica coletiva e ainda pela
égide da ordem social para alcançar-se o progresso, o ser humano, sempre e
através de suas ações eventuais ou reiteradas, irá produzir atos que possam ser
tipificados como violência.
Tanto o estudo da origem da formação das sociedades, quanto a natureza dos
processos de violências nelas existentes, ambos possuem relação direta com a
forma como o ser humano exerce, desempenha e age, ações estas que trazem
reflexos diretos na vida e na forma da coletividade.
A primeira reflexão a ser exercida é
como o ser humano se encontra em relação ao seu papel na criação e manutenção
da vida em sociedade. Considerando de forma bem simplista, de que a sociedade é
basicamente o ajuntamento de pessoas cujos objetivos em tese são os mesmos: sobreviver e prosperar (no sentido
de viver bem e em paz), ela parte então do sentido primário e minúsculo de comunidade, onde há
(ou devia haver minimamente) um entendimento compartilhado ao
qual o homem adere
tacitamente, como bem leciona (BAUMAN, 2003).[1] Sendo
então, que o ser humano, nasce, cresce e se reproduz na sociedade e nela deve
buscar seu progresso como pessoa humana e produzir durante toda a sua vida de
forma incessante ações positivas para que a mesma se mantenha e evolua; por que
então a prática dos atos de violência? Como pode alguém se revestir e operar um
papel de destruidor do
habitat e da comunidade da qual ele mesmo faz parte? Há um papel primordial que
está deixando de ser representado (exercício da razão), e estes atores (omissos
ou ameaçadores da ordem) estão abalando os alicerces da vida coletiva,
comprometendo as perspectivas de melhoria e fomentando a cultura da vida
individual como a mais ideal e segura (pois conviver em coletividade já não é
mais seguro e atrativo), um verdadeiro retrocesso que poderíamos popularmente
definir como o
retorno às cavernas[2].
Analisar os processos de violência na
sociedade passa por um olhar multidisciplinar sobre o que está acontecendo como
o ser humano (principalmente as crianças e adolescentes) onde os conceitos de
regras, valores, ordem, progresso, segurança e paz social não possuem mais
tanta necessidade de existirem.
A segunda reflexão, consequência da
primeira, nos conduz aos atos e fatos que estão
desintegrando a vida em coletividade, onde a insegurança social é uma delas.
Ações simples como estacionar o carro e namorar (mesmo em frente de casa),
andar de bicicleta, usar um tênis ou relógio de marca, esperar um ônibus no
ponto à noite, andar pelas ruas, deixar as portas e janelas abertas para se
refrescar a casa em dia de calor, utilizar um caixa eletrônico, atender ao
celular na via pública, realizar uma compra pela internet com cartão de crédito
ou outras, passam a ser revestidas de metodologias e truques especialmente
desenvolvidos para que a pessoa não seja roubada, furtada, sequestrada ou até
morta. E falando em morte, a vida tornou-se tão banal que para tira-la, o
agressor além de subtrair bens pessoais, vale-se de requintes de crueldades
indescritíveis antes de matar. O homem tornou-se fera, lobo de seu semelhante,
como afirmava Hobbes (homo homini lúpus).
Não deixará de existir a violência (em
qualquer uma de suas múltiplas formas) se a pessoa humana não for
suficientemente tolerante, compreensiva, seguidora de valores e princípios
construídos para o bem comum. A violência na sociedade, podemos divagar,
possui seu DNA na degradação moral do ser humano, na perda da racionalidade, no
desprezar do valor personalíssimo do semelhante e principalmente no se apropriar
da errada visão de que o outro, sua cultura, valores, patrimônio e até a sua
vida podem ser destruídos ou arrebatados mesmo que isso importe na quebra da
sobrevivência harmônica coletiva.
É certo que não há sociedade sem
violência, seria uma utopia. O desenvolvimento e o progresso geram sim
desigualdades, exclusões, fome, miséria e degradação de partes do coletivo
social. O equilíbrio ou o desequilíbrio, não importa qual, não podem permitir
que fatores transversais (e a violência é um deles) intranquilizem e ponham fim
à fórmula da sociedade (homem + homem = vida coletiva, diferenças, respeito,
harmonia e evolução).
[1] BAUMAN,
Zygmunt. Comunidade:
a busca por segurança no mundo atual. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar. Ed., 2003. Pg.17
BOM
ESTUDO!
Prof.
Samira.